O Museu Antropológico do Rio Grande do Sul (MARS), órgão da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), foi criado pelo decreto no 26.932, de 20 de abril de 1978. Instituído e pensado como um museu de etnologia, etnografia e arqueologia regional teve, desde o início, a finalidade de produzir pesquisas, acervo, divulgação e educação patrimonial da formação e complexidade sociocultural da sociedade sul-riograndense. Desde sua implantação, esteve comprometido com um projeto científico de modelo humanista, e com uma ética da compreensão e respeito da diversidade cultural.
Sua criação deu-se no contexto de implementação de algumas iniciativas no final da década de 1970, refletindo as pressões pela abertura democrática do Estado brasileiro, através de preocupações de salvaguarda de bens patrimoniais e de políticas do campo da memória comprometidas com a diversidade cultural e patrimonial, sob a perspectiva antropológica e arqueológica, em âmbito regional e no país. Precederam os movimentos pelas políticas de patrimônio que emergiram nos anos 1980, em sintonia com os processos de redemocratização do Estado nacional e desocultamento das memórias, pertencimentos sociais e filiações culturais, marginalizados e invisibilizados.
Com a adesão do professor e arqueólogo Fernando La Salvia, que assumiu a direção em 1979, definiram-se as primeiras linhas de pesquisa da instituição, e suas primeiras coleções de acervo dadas com os materiais procedentes da arqueologia de salvamento, prospectados em sítios de povos indígenas pré-coloniais das tradições Taquara, Umbu e Tupiguarani, no planalto norte do estado do Rio Grande do Sul. Este vínculo com a arqueologia de salvamento instituiu, por um lado, um caráter fortemente enraizado na pesquisa de perfil científico e acadêmico na formação de acervo e comunicação expográfica. De outro, a considerar o contexto de censura vigente, um compromisso institucional ético e de missão da própria pesquisa com o conhecimento e desocultamento de patrimônios culturais arqueológicos e etnológicos, de coletivos e filiações culturais em tensão e perigo de desaparecimento até então, ou à margem de historiografias e discursos privilegiados nas instituições.
Em 1983 foi criada a Associação de Amigos do Museu Antropológico do Rio Grande do Sul (ASSOMARS), com o objetivo de apoiar as atividades do museu enquanto uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, de duração indeterminada e número ilimitado de sócios. Em 2023, a Associação retorna como instituição de apoio aos projetos e atividades do Museu.
O MARS, em seus 45 anos de atividades, nunca teve uma sede própria, ocupando nessa trajetória sete espaços diferentes. O movimento de implementação do Museu obteve êxito inicial em sua idealização de perfil e atividades fins, porém, desde o início, o projeto careceu de uma definição e destinação de sede própria. Diferente de museus criados a partir da existência e “vocação” referencial de uma casa, de um lugar associado e investido por agentes públicos de valor histórico e patrimonial, dado por personagem político relevante, como o Museu Júlio de Castilhos, por acontecimento ou por empreendimento de ofício de relevância histórica tais como o Museu de Comunicação Hipólito José da Costa e o Museu do Carvão, a proposta do MARS perseguia um modelo idealizado, de algo a ser instituído e relacionado a um modelo de “museu de antropologia” e à diversidade de patrimônios culturais de coletivos, na maioria dos casos, sem visibilidade e ocultados, em suas territorialidades. Assim, diversos projetos foram desenvolvidos, mas cada um com peculiaridades que expunham as diretivas e não a própria capacidade museológica da instituição.
Esse longo caminho em busca de uma sede própria, de fato, nunca impossibilitou a atuação do museu como instituição e durante essas décadas de existência, muito projetos de vulto foram desenvolvidos buscando a reflexão e promoção da diversidade cultural do estado